
Eu te levaria pra praia,
e a gente moraria lá por um tempo,
eu trabalharia, e você trabalharia, mas só de manhã,
e não teríamos que fazer isso numa sala apertada.
Depois do almoço deitaríamos,
na areia, na grama, no cimento,
e aproveitaríamos o Sol até que ele nos fizesse suar,
e eu te contaria uma história,
às vezes boa
às vezes ruim.
Regaríamos as plantas sem borboletas na barriga,
elas estariam passeando ao redor de nossos contornos,
e às vezes, se deixariam ficar nas nossas mãos.
Nos perderíamos pela orla até não enxergarmos mais casas,
chegaríamos na cidade,
o açaí seria sempre no mesmo lugar, ouvindo o mesmo músico,
e o ânimo dele me atrairia,
eu sentaria num banquinho baixo, e não cantaria pra você,
nem pra mim,
eu cantaria pra rotina que quebraríamos várias e várias vezes.
A gente daria uma boa dupla, Talvez eu não precise de uma dupla.
Agradeceríamos.
Não teríamos mais o que comprar por ali,
o bronzeado não chegaria no braço de tantas pulseiras,
mas o passeio seria de turista.
Nós estaríamos radiantes até à noite,
voltaríamos caminhando, de bicicleta, poucas vezes de ônibus,
talvez de carro, ocupando as duas janelas de trás,
a janta seria cedo, com a casa toda aberta,
e não teria mosquitos.
Eu teria um livro no colo, e você, o cachorro,
e eu insistiria que ele pode se acostumar com um gato,
comeríamos vendo TV, mas nada de notícias,
talvez víssemos desenho.
Eu pentearia o seu cabelo ainda molhado,
e você o meu,
e quando conseguíssemos fazer algum penteado, ficaríamos dias com ele,
até que não fosse mais lindo.
O vento da janela seria suficiente na hora de dormir,
e quando saíssemos do embalo, o despertador ainda não teria tocado,
e eu escreveria em todos os meus cadernos só por sua causa,
você criaria uma pessoa para cada dia,
e eu não amaria todas, mas pegaria na mão de cada uma.
Você me ajudaria a pintar as cores das ondas.
e quando o mar não tivesse mais cheiro, viajaríamos à praia seguinte,
conhecendo mais as nossas pessoas a cada farol,
até cansarmos do sal e nos apaixonarmos de novo,
pelo campo, pela cidade, pelo rio,
cada vez se afastando mais das correntes,
o fio vermelho menor e menor, minúsculo.
E se você quisesse, eu encheria um lugar de gente,
e usaria branco até o calcanhar,
dançaria com todos os homens, e depois com todas as mulheres,
até que fossem embora, e fizéssemos nossa própria festa,
e eu deixaria meu anel no dedo até ele não sair mais,
– Eu não consigo desgrudar de você. –
e estaria tudo bem, porque aquilo não seria uma vontade.
Não chorei ao recitar, não choramos, olhava em seus olhos, e me via neles. Eu entreguei a folha que não era mais minha, mas registrava meu trabalho.
– Você vai ter uma vida linda – disse.
– Eu vou sim. – Isso me faz sorrir.
E nossos dedos se cruzam.
– Eu fico feliz com a sua felicidade.
– Muito obrigada, eu também – digo.
– Sabe que nunca vamos nos separar, né?
Eu concordei.
– Eu li o livro que me recomendou.
– Eu te recomendei vários.
Nós rimos, mas paramos ao soltar as mãos. Não estava sendo apressada, já era hora de caminhar.
– Então, até mais, talvez.
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