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Felícia Dtski

Dá pra segurar?

Posted on 15 de fevereiro de 202115 de fevereiro de 2021

Ainda dá pra segurar, dá.

Se segurar logo passa, e vai ser melhor. Sim, vai ser sim.

E se eu não conseguir? E se eu tiver que sair correndo?

Vai ser pior, muito pior, horrível, porque depois de sair, vai ter que voltar.

É, eu preciso pedir, mas ela tá tão longe.

Mas o que pode dar errado?

Olhar pros lados, esperar um pouquinho, levantar, primeiro passo, mais um, sempre continuando, mais um, mais um. Ficar de lado pra passar entre as mesas, empurra uma mochila pro lado. Dois colegas brigando. “Com licença”. Eles se empurram e batem em mim, os olhos arregalados, saíram, ok, pelo menos saíram, saíram.

Uma cadeira caída, baixar e juntar, não, não, não. Não dá pra pular? Não dá, se pular, enrosca a perna e cai, e eles vão ter que te ajudar a levantar. Eu tenho que baixar e juntar, eles tão tudo longe de mim mesmo, baixei levantei, eles tão tudo longe… rindo, não, rindo, rindo, me viram? Tão olhando pra mim, me viram, tão rindo de mim, infeliz que não juntou a própria cadeira. Segura o choro, tu vai sair daí, segura o choro. Seguir pelo corredor, sem olhar pra trás, não, não, não, não, não, não, alguém chegou na mesa dela primeiro, mais um, sentou em cima, mais um, mais um, não querem deixar eu chegar lá, não querem, eles sabem, eu não posso ir ali, será que os outros ainda estão rindo? Eu preciso ir ali, 1, 2, 3, ela olhou pra mim, tô há tempo demais parada, não podia.

“Posso tomar água?”. “Não trouxe a garrafinha?”. “Não”. “Mas eu tô, vendo ela daqui, querida”. “Eu preciso ir no banheiro também”. Pede de novo. “Por favor”. “Tá bom, pode ir”. Sai rápido da sala, vamo, vamo, vamo, silêncio? Não, tão rindo, me olhando, talvez rindo por dentro, com certeza rindo por dentro. Vamos, rápido, sai daí. NÃO, ele se encostou na porta, por quê? Meu Deus, por favor, não, não, não, não, não, não, eu preciso sair daqui, eu não posso voltar pra classe agora que pedi pra sair, eu não vou conseguir segurar.

“Com licença, eu quero sair”. Silêncio, todos olhando pra mim. “Tá tudo bem?” “Sim”. Balança a cabeça, tá tudo bem sim, tá tudo bem, tudo bem. Abrir a porta, sim, abrir a porta, isso. Sai rápido de perto da sala, mas nem tanto, rápido mas nem tanto, não corre! Não, sem tempo pra conversar. Aqui eles não me veem mais, não me veem. Ninguém me vê, sim, ninguém, sozinha, posso tomar água no bebedouro baixinho, demorar o quanto quiser, tomar o quanto for necessário, o quanto eu preciso. O corredor tá vazio, sim! É lindo, deveria ser sempre assim, deveria continuar lindo, sempre.

A porta do boneco que veste um triângulo. Um barulho, são vozes lá dentro? Ah, não, eu preciso entrar, por favor. Abre a porta, devagar, não, me viram, me viram. Quanta gente na frente do espelho, NÃO. Não, não, não. Não dá pra fechar e sair correndo, não dá, eu vou ter que entrar. NÃO CHORA!

Não vale a pena pedir pra ir, né?

Não.

Mas eu vou conseguir segurar?


Dá pra segurar? – Felícia-DTSKIPDF

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