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Felícia Dtski

Saudades

Posted on 21 de janeiro de 202121 de janeiro de 2021
Saudades

Eu te levaria pra praia,

e a gente moraria lá por um tempo,

eu trabalharia, e você trabalharia, mas só de manhã,

e não teríamos que fazer isso numa sala apertada.

Depois do almoço deitaríamos,

na areia, na grama, no cimento,

e aproveitaríamos o Sol até que ele nos fizesse suar,

e eu te contaria uma história,

às vezes boa

às vezes ruim.

Regaríamos as plantas sem borboletas na barriga,

elas estariam passeando ao redor de nossos contornos,

e às vezes, se deixariam ficar nas nossas mãos.

Nos perderíamos pela orla até não enxergarmos mais casas,

chegaríamos na cidade,

o açaí seria sempre no mesmo lugar, ouvindo o mesmo músico,

e o ânimo dele me atrairia,

eu sentaria num banquinho baixo, e não cantaria pra você,

nem pra mim,

eu cantaria pra rotina que quebraríamos várias e várias vezes.

A gente daria uma boa dupla, Talvez eu não precise de uma dupla.

Agradeceríamos.

Não teríamos mais o que comprar por ali,

o bronzeado não chegaria no braço de tantas pulseiras,

mas o passeio seria de turista.

Nós estaríamos radiantes até à noite,

voltaríamos caminhando, de bicicleta, poucas vezes de ônibus,

talvez de carro, ocupando as duas janelas de trás,

a janta seria cedo, com a casa toda aberta,

e não teria mosquitos.

Eu teria um livro no colo, e você, o cachorro,

e eu insistiria que ele pode se acostumar com um gato,

comeríamos vendo TV, mas nada de notícias,

talvez víssemos desenho.

Eu pentearia o seu cabelo ainda molhado,

e você o meu,

e quando conseguíssemos fazer algum penteado, ficaríamos dias com ele,

até que não fosse mais lindo.

O vento da janela seria suficiente na hora de dormir,

e quando saíssemos do embalo, o despertador ainda não teria tocado,

e eu escreveria em todos os meus cadernos só por sua causa,

você criaria uma pessoa para cada dia,

e eu não amaria todas, mas pegaria na mão de cada uma.

Você me ajudaria a pintar as cores das ondas.

e quando o mar não tivesse mais cheiro, viajaríamos à praia seguinte,

conhecendo mais as nossas pessoas a cada farol,

até cansarmos do sal e nos apaixonarmos de novo,

pelo campo, pela cidade, pelo rio,

cada vez se afastando mais das correntes,

o fio vermelho menor e menor, minúsculo.

E se você quisesse, eu encheria um lugar de gente,

e usaria branco até o calcanhar,

dançaria com todos os homens, e depois com todas as mulheres,

até que fossem embora, e fizéssemos nossa própria festa,

e eu deixaria meu anel no dedo até ele não sair mais,

– Eu não consigo desgrudar de você. –

e estaria tudo bem, porque aquilo não seria uma vontade.

Não chorei ao recitar, não choramos, olhava em seus olhos, e me via neles. Eu entreguei a folha que não era mais minha, mas registrava meu trabalho.
– Você vai ter uma vida linda – disse.
– Eu vou sim. – Isso me faz sorrir.
E nossos dedos se cruzam.
– Eu fico feliz com a sua felicidade.
– Muito obrigada, eu também – digo.
– Sabe que nunca vamos nos separar, né?
Eu concordei.
– Eu li o livro que me recomendou.
– Eu te recomendei vários.
Nós rimos, mas paramos ao soltar as mãos. Não estava sendo apressada, já era hora de caminhar.
– Então, até mais, talvez.


Saudades – Felícia DTSKIPDF

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